CARTILHA CAMINHO SUAVE E UMA BRONCA HOMÉRICA.




   Sua primeira série foi em uma escola estadual. Uma moleza, a tia desinteressada não ensinava muita coisa. O alfabeto e uma continha aqui e outra ali. Os catarentinhos adoravam, não faziam nada o tempo todo além de bagunçar. A cartilha Caminho Suave era obrigatória nas sala de aula, mais parecia um enfeite dado pelo Estado. No futuro isso custaria caro.
   Seus pais instintivamente perceberam a moleza escolar e cismaram que ele deveria fazer a lição de casa inexistente na empresa da família. Inventava algo para copiar ou responder. Levava a lição todo o dia para a tia ver, ela fingia que ensinava e ele pensava que aprendia.
    O nível de estudo das balconistas que se metiam a professoras não era grande coisa, mas para um aluno na primeira série até que ajudava.
   Uma se meteu a sabichona, ele erra uma letra na palavra e ela lhe chama a atenção ríspida. O pai que passava ao seu lado, tinha um prazer sádico em lhe dar pitos na frente dos outros, não perde a oportunidade e solta uma bronca homérica.
   Cobras e lagartos em tom elevado para que todos ouvissem sem e menor cerimônia. Marimbondos africanos saem em forma de palavras explosivas. Sem jeito não sabe onde enfiar a cara, fica apenas soltando lágrimas sem fazer barulho enquanto o coroa esbraveja sua raiva sem motivo aparente.
   A moça se arrepende, nunca imaginava reação tão exacerbada. Aos poucos o vai acalmando e lhe diz que se soubesse não teria aberto a boca. Carinhosamente lhe enxuga as lágrimas, nunca mais se atreveu a fazer isso.
Ali Hassan Ayache

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