Ouve a voz do filho no quarto, o leite já derramava no fogão.
--- O que foi? Voz exaltada.
--- Cadê meu tênis verde? Voz alta.
--- Você não está pensando em
ir pra entrevista de tênis, coloca um sapato. O filho tinha uma coleção de
tênis das marcas mais caras e cobiçadas. Usava alguns poucas vezes e já pedia
outros, eles nem envelheciam. Na idade dele só usava Conga e seu irmão um
Kichute ou um Bamba cabeção e não adiantava reclamar.
Aparece todo pomposo e perfumado com um Bleu da Chanel. Garoto vaidoso, só gostava de roupas de marca. O problema é que ela pagava a conta.
Ele exibia um falso orgulho aos amigos dizia, que trabalhava e conquistava o
seu. Mentiras e mais mentiras, quem é quem não mente todo dia.
--- Que fome que eu to hoje. Empolgado.
--- Fome e sono né filho,
saiu ontem à noite e nem vi que horas chegou. Você sabia que tinha uma
entrevista hoje. O tom que falava com ele era quase sempre enérgico. Mimou-o por
vários anos, investiu tudo nele: Escola, faculdade, intercambio e cursos caros.
Viajou ao exterior diversas vezes, adorava a Disney. Sua paciência terminou
quando percebeu a acomodação. Sabia que parte disso era culpa sua e tentava
desesperadamente consertar o problema, reza a lenda que pau que nasce torto nunca se endireita.
--- Come logo senão vai se
atrasar.
---Relaxa Mamis, chego na
hora, lá vou eu ouvir as mesmas perguntas de sempre. Irônico.
--- Vê se esforça um pouco,
quem sabe consegue essa vaga. Pressionando o filho.
--- Faço tudo que eu posso minha coroa. Sorriso meio cínico na boca.
A mãe vê o filho tomando café com a maior calma do
mundo, parecia sempre desinteressado. Imaginava que ele faria a entrevista
com displicência e mostraria o jeito moleque que os entrevistadores odeiam.
Recusou um emprego com ótimas perspectivas porque achou o salário baixo.
Ia
levar um contra cheque de 30 oncinhas e um monte de benefícios, o que
ele quer afinal, começar ganhando uns dez paus e uma secretária gostosa à disposição.
Essa é a geração conectada, sempre com aquela conversa mole de felicidade, satisfação e qualidade de vida em tudo que fazem. Tem que aprender que sem trabalho duro nada acontece.
Ali Hassan Ayache
Essa é a geração conectada, sempre com aquela conversa mole de felicidade, satisfação e qualidade de vida em tudo que fazem. Tem que aprender que sem trabalho duro nada acontece.
Ali Hassan Ayache

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