O PRIMEIRO BEIJO AGENTE NUNCA ESQUECE. CONTO DE UM ANIVERSÁRIO DE GARAGEM.


   Já estava nos enta, mais de 40 anos vividos e experiências que muitos nem imaginam. Sempre se apega nas suas memórias, lembrando um passado muitas vezes não tão remoto, às vezes prazeroso, ora tenso e sempre dramático. 
   Sua preocupação agora é fazer o café da manhã do filhão. O rebento formado na faculdade possuí um monte de cursos e insistia em não trabalhar. Dava tudo de bom a ele e parece que o guri nem aí pra começar a se sustentar sozinho. Espírito de mãe é foda e ela não conseguia negar nada. Era só ele vir carinhoso que conseguia o que queria. 
   Água fervendo, pão na mesa e o leite querendo escapar do bule e ela está em um daqueles momentos de lembranças. Sente que com a idade esses apagões tornaram-se mais frequentes, alguns segundos que viravam minutos parada olhando pro infinito: Lembrando, pensando e sonhando em pé. 
   Sua mente a remete aos coloridos anos 80 quando ainda adolescente ia às festinhas das colegas de classe. Aconteciam nas garagens das casas, música tocada no esquecido três em um onde fitinhas K7 e discos de vinil eram a atração.
   A comida não passava de coxinha e brigadeiro feito pela mãe do colega. A música tinha duas partes, dançante e lenta, tinha uma relação de ódio com as lentas. Se um rapaz interessante a tirava para dançar ficava eufórica, se um chato o fizesse e não tivessem opções melhores aceitava para não ficar sobrando e se ninguém olhasse para ela era um desastre total.
   Em uma dessas festinhas deu seu primeiro beijo na boca, beijo de língua demorado e molhado. Nas lentas um colega de sala a convidou para dançar. Tocava uma música melosa que anos depois ela descobriu ser Midnight de Nikka Costa. Aceitou receosa já que nunca tinha se interessado por ele.  Avançou o sinal e tentou beijá-la. 
  Pega-a de surpresa, uma sensação estranha percorre seu corpo ao sentir os lábios encostando e a língua penetrando sua boca. Assustada pela situação inédita e sem nenhuma experiência se limitou a ficar imóvel nos primeiros segundos deixando-o dominar a situação. 
   Aos poucos começou a entender a mecânica do beijo e começou a acompanhar. A boca dele encaixou com a sua e os lábios se cruzavam trocando de lado. As mãos passavam carinhosamente pelo seu corpo explorando sua cintura fina e as costas com uma leveza e um toque especial que provocava arrepios.
   Sensação estranha domina seu corpo, um calor misturado com euforia percorria seus sentidos. Não queria que aquele momento único acabasse e quando ele ameaçava parar ela com as mãos voltava seu rosto para sua boca. 
   Adorou a novidade e a música parece que acabou rapidinho. Olhou fixamente para o garoto e com um sorriso tímido começaram a conversar e trocaram mais alguns beijos naquela inesquecível festa.
Ali Hassan Ayache

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