"Aqui todas as paredes são azuis Aquela mesma cor que escolhemos Tudo ainda está do mesmo jeito Apenas seu amor que hoje é menos Resta uma saudade sem igual Fumaça de cigarro em caracol O gosto do seu corpo está na boca Seu cheiro ainda está no meu lençol"
As Paredes Azuis, gravação original de João Mineiro e Marciano, letra de Marciano e Darci Rossi.
A música soava baixo na vitrola que ela insistia em ouvir mesmo estando ultrapassada, lembranças contraditórias surgiam na memória como uma cena de um filme romântico. Vinham acompanhadas de uma tristeza nostálgica que somente os que se apaixonaram entendem.
Domingo tinha sido um dia maravilhoso, passará o fim de semana com o amado. Típico programa de índio, namoraram bastante na noite anterior e assistiram ao Programa Silvio Santos durante o dia.
No fim da tarde o amado foi embora, ela resolveu visitar uma amiga. O convite para tomar um sorvete naquele dia quente pareceu irresistível. Vai com a amiga na rua mais movimentada da Vila Maria, pertinho da Candelária, cheia de bares legais e agito da moçada.
Dia quente é gente pra todo lado, carros passam com os playboys querendo exibir seus carros. Homem adora se mostrar com o carrão, como se fosse símbolo de virilidade. Pega um duplo de creme, seu sabor favorito. A amiga encontra um paquera na esquina, fica sobrando, segura vela por um tempo.
Olha desinteressada para os carros, quando menos espera uma cena assombrosa é processada na retina. Seu namorado, aquele que uma hora atrás estava aos beijos com ela, passa com uma sirigaita do lado. Sua face se ruboriza, lentamente tenta uma reação em segundos que parecem horas. A curva fechada faz o carro quase parar, ela está do lado do motorista. Bate na janela.
--- Oi, tudo bem aí. Voz cínica e enérgica. Percebe a cara de espantado do namorado.
--- Já tem dono. Grita a sirigaita do carro.
Sorte ou azar o trânsito anda, o carro some na multidão. Sua primeira reação é se desmantelar em um choro que corrói seu coração. A segunda é ligar para o filho da puta, só dá caixa postal.
Na milésima tentativa consegue falar com ele. Nem tenta negar, é como batom na cueca, admite a traição e jura de pé junto que nunca mais fará isso. Depois disso a confiança entre ambos nunca mais foi a mesma e a relação não durou muito.
Ali Hassan Ayache

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