Os primeiros meses de casados foram maravilhosos, seu marido a procurava quase todas as noites com um tesão que parecia não ter fim. Ela adorava isso, sentia-se desejada e atingia orgasmos intensos. Depois de um tempo a frequência começou a diminuir, ela é que o procurava e ele sempre tinha uma desculpa. Tinha ouvido que era ao contrário, diziam que a mulher inventava desculpas para não transar, a dor de cabeça é clássica.
O pior de tudo foi quando estreou o maldito seriado Kojak. O filho da puta começou a assistir e a gostar do careca e ela perdia todas. Odiava o pouca telha que sempre chupava um pirulito. Seu marido sempre repetia a frase do personagem "quem gosta de você, neném? Usava sempre as frases "dando mole pro Kojak" que significa vacilar ou ser pego pela polícia e "trabalha menos que o pente do Kojak". Quanto mais ele falava, mais ódio tinha.
A noite se preparava toda: tomava banho, se perfumava, ficava sem calcinha e colocava uma camisola excitante. O maridão nem ligava, só queria saber de assistir Telly Savalas.
Formada em magistério dava aulas para um monte de catarentinhos chatos de sete anos. Um dia voltando para casa no ponto final da linha Vila Medeiros/Liberdade 2123 vê um bonitão a encarando, seus olhos pareciam querer devorá-la. Não tem só japonês na Liberdade, o bonitão puxa conversa e assutada ela percebe que o cara era careca e parecia adivinha com quem? Kojak é claro.
Não sabia se por vingança ou por raiva resolve ficar fácil para ele. Todos os dias passaram a conversar no boteco da Rua Galvão Bueno. Até que o aeroporto de mosquito resolve chamá-la para ir ao hotel. Nem titubeou, aceitou de primeira.
Deu tudo errado, o tiro saiu pela culatra. A vingança com o sósia do Kojak virou um problema. Não sentiu tesão nenhum. Para piorar quando estavam transando vinha em sua mente a marchinha do Nelson Gonçalves:
"Hey Kojak, hey Kojak
Hey Kojak, homem da lei
Kojak mete bronca na moçada
É tira, valente e respeitado Acaba os “vida torta” da cidade
Destrói os pirulitos do mercado"
Fingiu prazer e até um orgasmo, se despediu do serra pelada e nunca
mais o viu. O casamento não durou muito, ele que assistisse Kojak
para sempre.
Ali Hassan Ayache
Ali Hassan Ayache

Adoro suas crônicas.. São muito boas
ResponderExcluir