No distante sertão da Paraíba o calor rachava a moringa de todos. Nada para fazer naquele fim de mundo. A noite ouvia pelo rádio e no sábado pelos auto-falantes as músicas de Zezé di Camargo e Luciano. Sucesso em todo o Brasil desde a ano de 1991 com É o amor. Não imaginava que a dupla de Goiânia já tinha lançado vários disco, seus bolachões vendiam mais que pão quente na padaria.
Viu pela primeira vez as fotos dos cantores e se apaixonou pelo cabelão do Zezé, aquela calça super apertada lhe deixava louca de tesão. Que homem meu Deus!
A pobreza do sertão a impediu de passar a adolescência com a família, como milhares de pessoas foi a São Paulo em busca de condições melhores. A tristeza de deixar a mãe doeu no seu coração, uma punhalada no peito partir para o incerto da grande cidade.
Trabalhou muito e ganhou pouco. Sempre ouvia que a dupla se apresentaria em algum canto ficava ouriçada. Sentia uma vontade de ir e ao mesmo tempo vinha a decepção de não poder.
Teve a sorte de namorar um rapaz que gostava deles também. Não entendeu muito bem o convite misterioso que lhe fizera para sair naquela sexta-feira, dia que ficavam assistindo filmes no vídeo cassete.
Andaram de carro uma eternidade, sua curiosidade aguçada queria saber para onde estavam indo. A surpresa acabou quando chegaram na Vila Romana, na casa de shows Olímpia. O cartaz estampava uma enorme foto da dupla.
Seu coração acelerou, não acreditava que iria ver seus ídolos de perto. Ao adentrar no recinto viu a exuberância do lugar, recepcionada por duas estátuas da mitologia grega e moças que a colocaram em uma mesa pertinho do palco. A ansiedade estava no máximo.
O tempo parecia não passar, a demora para começar era insuportável. Até que as luzes se acenderam, a banda toca uma introdução de uns três minutos e nada dos cantores. Aos poucos percebe no alto das laterais a cabeça de cada um aparecendo do nada. Quando escuta a voz aguda do Zezé saudando a plateia:
--- Alô São Paulo!
Entrada triunfal, ambos vão ao centro do palco, se cumprimentam e descem as escadas. Ficam pertinho dela, quase dava para tocá-los. A música de abertura é Vem Ficar Comigo, não aguentou mais, o sentimento de vê-los foi de uma intensidade indescritível. Desabou em choro torrencial, derramava lágrimas de emoção.
Nunca imaginou que ela, uma simples moça que vivia nos confins do serão da Paraíba, estaria um dia assistindo a sua amada dupla de perto em um lugar fabuloso. Que noite inesquecível.
Ali Hassan Ayache

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