AMOR DE CARNAVAL NÃO PASSA DA QUARTA-FEIRA DE CINZAS.

   
   Parece um ditado bobo, mas é real. Sempre que as paixões afloram nas festas do rei Momo terminam rápido, não passam da Quarta-Feira de Cinzas. Quatro a cinco dias para aproveitar uma paixão arrebatadora com direito a flechadas certeiras no coração. Passa rápido e sempre é inesquecível. 
   Esperança é a última que morre, fica aquela sensação de quero mais, as pessoas acham que o forte impulso amoroso não vai acabar, sinceramente não querem que acabe, eu não queria que acabasse, mas acaba.
   Momo não perdoa, seus súditos sempre o ignoram nas horas de prazer. Começam com beijos empolgantes entre uma marchinha e outra. Confetes e serpentinas voam para todos os lados nos salões de baile. A mão boba era rechaçada no começo, depois de alguma insistência Momo permitia que ela ficasse mais ousada no canto escuro do salão.
   Nunca esquecerá  seu primeiro carnaval, anos 70 no ginásio da Portuguesa. Ela com apenas 16 anos. Parecia tudo enorme, gente saindo pelo ladrão com uma turma vestida de prisioneiros. A lotação contrastava com a alegria das pessoas. Todos pareciam felizes, dançavam as marchinhas de mãos dadas e faziam o trenzinho ingenuamente. Tentou entrar no ritmo da galera, imitou os outros nos movimentos.
   Sente um braço passando por sua cintura, olha perplexa e vê um boa pinta ao seu lado. Percebe que está longe da mesa dos pais e deixa o rapaz dançar abraçado. Exalava um cheiro majestoso, viril e selvagem de homem macho alfa. Anos depois descobre que o perfume era o Paco Rabanne, cheiro dos anos 70. O odor unido ao charme incondicional derrubou suas defesas.
   Não demorou que cedesse aos seus encantos, beijos rolaram nos corredores do salão, seus pais a procuravam e ela disfarçava como podia. Sua sorte é que tinham comprado um pacote para todas as noites carnavalescas e ainda era Sábado.
   Aproveitou todas as oportunidades para beijar muito. O cheiro de suor misturado com o perfume provocava uma excitação grandiosa. Seus feromônios atingiam nível máximo. Fazia força para não ceder à mão boba do rapaz. Tentou de início, não conseguiu por muito tempo. Um calor subia pelo seu corpo fazendo-a sentir sensação desconhecidas. A mão dele passeou por mares nunca dantes navegados. Adorou tudo isso, sentiu a excitação e o prazer pela primeira vez. Chegou ao orgasmo com o toque macio dos dedos.
  Sábado era a última noite, sendo assim o baile só acabava as cinco da madrugada. Aproveitou todos os minutos que tinha direito. Fez estripulias para fugir dos pais e dos olhares alheios, queria continuar provando aquelas sensações maravilhosas recém-descobertas. Ao fim pede o telefone do bonitão, ele anota os seis números mágicos em um guardanapo e entrega e ela com olhar apaixonado.
   Findo o carnaval após alguns dias liga para sua paixão carnavalesca. Uma voz estranha atende, parecia fim de feira com uma barulheira infernal. Educada pede para falar com o moço. A resposta vem seca, "não tem ninguém com esse nome". 
   Como assim, fica perplexa, caiu-lhe a cara no chão. Nunca imaginou que todo aquele amor fosse falso. Achava que o moço estava tão ou mais apaixonado quanto ela. Tempos depois aprendera o famoso ditado carnavaleco. Pena que fora da maneira mais dura a descoberta que ditados populares são repletos de sabedoria.
Ali Hassan Ayache
   

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