Virado à paulista é originário da época dos bandeirantes e dos tropeiros em suas expedições. Atravessou séculos e acabou sendo servido as Segundas em todos os bares e botecos da cidade de São Paulo. Esse dia da semana provoca a ira de muitos, odiado por ser o primeiro dia após o Domingo. O prato serve de consolo, é saboroso e farto, daqueles que não deixa ninguém com fome.
Toda Segunda-Feira Jorge deixava a obra na hora do almoço e pedia um, vinha no capricho, verdadeiro prato de pedreiro. Só assim para saciar sua fome de leão. A vontade de atacar a bisteca de porco com a banana frita, arroz e couve era enorme. Claro, sempre acompanhado de uma Itubaína. Comia com vontade mesmo, devorava tudinho. Por mais caprichado que fosse ele sempre pensava que podia comer mais.
Nunca reparou em um pequeno detalhe, aliás quando estava com fome não pensava em mais nada. Uma moça bonitona sempre o via devorar a iguaria. Amava seu jeito rude de comer, aqueles gestos alimentares dos homens das cavernas a deixaram apaixonada. Tentava alguns olhares de soslaio, mas não adiantava nada, o bonitão só tinha olhos para a comida.
Pensou em uma investida, olhos nos olhos, um sorriso farto e sentar na mesa para conversar. Durante toda a semana jurava para si que tomaria coragem e iria puxar assunto. Ensaiava a cena e aguardava ansiosa pela Segunda. Chegava na hora travava.
Adorava vê-lo comendo, sua boca tinha algo de ancestral, pré-histórica e animalesco. Esse era seu charme, imagina aquela boca beijando a sua, com força sugando sua língua e lábios. Pena que lhe faltava a maldita coragem.
Esse ritual durou meses, seu azar foi que a obra acabou e ela nunca se atreveu a abrir o jogo, mostrar suas intenções. Sentiu uma pontada de dor no coração quando naquela fria segunda de Agosto ele não apareceu para devorar seu virado à paulista. Lágrimas caíram de seus olhos suavemente, como a garoa paulistana que some na aurora nos dias frios de inverno.
Ali Hassan Ayache

Comentários
Postar um comentário